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Manaus: Onde a Barbárie no Trânsito é Norma e a Lei é Só Decoração

  • Demosthenes Advocacia
  • 2 de mai.
  • 4 min de leitura
Ilustração em estilo caricatura mostrando um trânsito caótico em frente ao Teatro Amazonas, em Manaus. À esquerda, um motociclista irritado anda sem capacete e com uma moto sem placa. Ao centro, um carro azul faz uma conversão proibida, com o motorista assustado. Ao fundo, vários carros buzinam em meio a engarrafamento. À direita, um oficial da lei cochila em pé com os braços cruzados, ignorando a situação. Há uma placa de proibido virar à esquerda próxima ao policial.

Não é novidade para ninguém que respira o ar (poluído) de Manaus: nosso trânsito é um espetáculo diário de incompetência e perigo, figurando merecidamente entre os piores do Brasil (como apontam até pesquisas recentes, para quem ainda duvida do óbvio1). As fatalidades, claro, são apenas a ponta sangrenta desse iceberg de estupidez motorizada, como nos lembram tragédias recentes envolvendo desde blogueiras2 que acham que a rua é passarela particular – a ponto de, após serem acusadas de matar um personal trainer em uma manobra imprudente, ainda encontrarem leveza e ocasião para ostentar uma viagem a Paris pouco tempo depois, como se a vida ceifada fosse apenas um contratempo na agenda – até motoristas bêbados3 ceifando vidas de atletas em plena corrida.


E qual a reação diante do caos? A mesma ladainha de sempre: familiares em luto clamam por justiça – leia-se, penas mais duras. Um pedido compreensível na dor, mas que vira palanque fácil para políticos oportunistas, especialmente quando as eleições se aproximam. Prometem o endurecimento das leis como se isso fosse a bala de prata. Pura falácia.


A verdade nua e crua, que ninguém quer encarar, é que de nada adianta uma lei prever 8, 16 ou 50 anos de cadeia se ela nunca sai do papel para morder quem realmente merece. O motorista que atropelou os atletas, por exemplo, já colecionava multas. Surpresa? Nenhuma. Era uma tragédia anunciada, incubada pela certeza da impunidade. Essa conversa fiada de “ninguém é culpado até o trânsito em julgado” serve de escudo para a índole irresponsável que desfila diariamente pelas nossas ruas.


Porque a infração em Manaus não é exceção, é a regra. A qualquer hora do dia, o que se vê é um festival de ilegalidades: retornos proibidos são atalhos; a contramão é apenas uma faixa alternativa; sinais vermelhos são sugestões decorativas. E as motos? Ah, as motos… essas parecem operar sob um código de leis próprio, vindo diretamente de algum Velho Oeste motorizado. Ziguezagueiam entre carros, ignoram faixas, sobem em calçadas (às vezes buzinando para o pedestre sair da sua frente!), empinam suas máquinas e ainda têm a pachorra de justificar a velocidade com a desculpa esfarrapada da “refeição quentinha”. Enquanto isso, a tal “educação DE VERDADE no trânsito” e a punição efetiva seguem sendo negligenciadas pelo Executivo com um desdém criminoso.


Os acidentes fatais viraram rotina. Aqueles que "só" causam fraturas ou sequelas já nem rendem manchete – não dão o ibope que uma boa morte diária proporciona. E os incontáveis casos de danos materiais? São a paisagem cotidiana desta terra onde a falta de educação no volante é endêmica e os órgãos que deveriam zelar pela ordem assistem a tudo com uma inércia quase cúmplice.


Nesse cenário, até o pedestre entra na dança macabra. Sim, as regras também valem para eles, algo que parece esquecido. Vimos o caso da idosa4 que, apesar de ter a faixa a seu favor, se atira na frente de um carro em movimento. Não adianta apresentador de TV ter um chilique diário, berrando que o pedestre tem sempre razão e o carro tem que parar, como se física e bom senso não existissem. No vídeo do acidente, é inegável a imprudência da vítima ao avançar abruptamente. Ter a preferência não é um colete à prova de balas; esperar o veículo parar antes de cruzar não é pedir favor, é instinto de sobrevivência básico – algo em falta por aqui. Criticar a imprudência do pedestre não é isentar o motorista, é constatar que a selvageria tomou conta de todos os lados.


O Amazonas, talvez pela baixa instrução que insistem em perpetuar em sua gente, vive uma epidemia crônica de violência no trânsito. É o dono do carro maior se achando o rei da rua, o motorista que desconhece (ou ignora) a mais básica regra de circulação, a legião de bêbados ao volante nas madrugadas de fim de semana. Todos veem. Todos sabem. Menos o poder público, convenientemente cego e surdo há décadas.


E as motos sem placa e seus motoristas sem capacete circulando livremente nas avenidas mais movimentadas da capital? São o símbolo máximo dessa impunidade descarada. Onde deveria haver temor pela fiscalização, há a certeza de que nada acontecerá.


Então, a pergunta que fica ecoando no asfalto manchado de sangue é: adianta endurecer penas que já não são cumpridas? Ou seria mais revolucionário simplesmente aplicar as leis que já temos? E quanto à multa de R$ 2.934,70 por dirigir embriagado ou R$ 195,23 por uma conversão proibida? Elas têm o mesmo peso "dissuasório" para quem ganha R$ 3 mil por mês e para quem fatura R$ 300 mil? Chega a ser cômico, se não fosse trágico.


Talvez seja hora de repensar não só a aplicação da lei penal, mas também o papel dos danos morais como ferramenta para frear essa carnificina urbana. Mas isso, claro, já é outra discussão, para quando (e se) superarmos o básico da civilidade no trânsito.


Enquanto isso, seguimos contando os mortos.






 
 
 

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